Segunda-feira, 24 de Maio de 2010

Síntese - A Explosão Populacional, a Expansão Urbana, Migrações Internas e Emigração

O século XIX registou por todo o mundo, particularmente na Europa, um extraordinário aumento demográfico, a ponto de se falar em “explosão demográfica” (regime demográfico de transição).
O crescimento populacional (mais forte nos países de maior desenvolvimento industrial e cultural, como a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, seguida da França do Norte e da Alemanha) foi causado, numa primeira fase, pelo acentuado recuo da mortalidade – enquanto a natalidade permanecia elevada.
A diminuição da mortalidade é explicada fundamentalmente, pela melhoria geral das condições de vida, resultante dos seguintes factores:
* do desenvolvimento económico produzido pela Revolução Industrial e suas implicações na produção agrícola, na revolução dos transportes e no alargamento dos mercados internos;
* da melhor alimentação, o que fortaleceu o organismo humano permitindo-lhe reagir com maior sucesso às doenças e às epidemias, ainda frequentes;
* do desenvolvimento científico-técnico, que permitiu o avanço da Medicina, com progressos na farmacologia e na vacinação;
* dos progressos na higiene individual e colectiva (difunde-se o uso do sabão e do vestuário em algodão, a prática do banho torna-se mais regular e estabelecem-se redes de saneamento público).



- O século XIX foi também um século de surto urbano. Como consequência da industrialização, as cidades cresceram a um ritmo muito acelerado (em número, em extensão e em quantidade de população). O rápido crescimento urbano do século XIX é atribuído aos seguintes factores:
* ao crescimento demográfico;
* às alterações económicas provocadas pelas transformações nos campos e pela industrialização (a mecanização dos campos e as alterações no tipo de propriedade contribuem para o desemprego rural. As cidades, centros industriais e comerciais que oferecem maiores possibilidades de emprego, absorvem a mão-de-obra que o campo liberta – êxodo rural);
* ao incremento e desenvolvimento dos transportes, nomeadamente os caminhos-de-ferro;
* ao fascínio que as modernidades e as comodidades que a vida citadina parecia oferecer, pela novidade das realizações culturais e recreativas, correspondendo ao ideal de promoção social.

A concentração populacional, das indústrias, do comércio e dos serviços, nos espaços citadinos, levantou problemas de difícil resolução, problemas esses que se fizeram sentir de forma mais grave ao nível:
* da habitação: o espaço torna-se pequeno para albergar uma população que cresce rapidamente;
* da circulação: o incremento dos transportes, aliado à elevada densidade populacional, cria problemas de tráfego nas antigas ruas estreitas e sinuosas;
* do abastecimento: de água (cujo consumo exigiu novos meios de captação, tratamento e distribuição), de combustíveis e de bens alimentares;
* do saneamento e da saúde pública: a forte densidade populacional e a insuficiência de infra-estruturas de higiene e de saneamento faziam proliferar as epidemias (como a cólera e a tuberculose).
* da delinquência e do desregramento (criminalidade, alcoolismo, violência doméstica, mendicidade, prostituição), causados pela miséria extrema e pelo desenraizamento das populações que afluíam à cidade.

Os problemas sentidos pelas cidades estiveram na origem de intervenções urbanísticas que alteraram a fisionomia da cidade:
* no centro, onde se encontram os edifícios governamentais e de negócios, criam-se redes de saneamento, pavimentam-se ruas, iluminam-se essas mesmas ruas (a gás ou a energia eléctrica), abrem-se espaços verdes, constroem-se áreas de lazer e de cultura;
* os bairros adjacentes prolongam o centro, servindo de área residencial para os ricos, para as elites urbanas;
* os subúrbios, “dormitórios” dos operários, caracterizados pela insalubridade das ruas e das habitações.

 



- O século XIX produziu, em todo o Mundo desenvolvido, impressionantes fluxos migratórios que, embora difíceis de contabilizar com precisão, são unanimemente reconhecidos como os maiores da História.
A Europa foi o continente que registou a maior mobilidade populacional, quer dentro quer fora das suas fronteiras (“explosão branca” no mundo). Este fenómeno migratório foi favorecido pelo elevado crescimento demográfico, pelas crises económicas (desemprego e miséria), pelas perseguições políticas e religiosas às quais muitos grupos e povos foram sujeitos, pelo desejo de encontrar condições de promoção social e pela simples curiosidade científica.
Estes movimentos demográficos geraram correntes de migrações internas e de emigração.

Migrações internas:
a) deslocações sazonais: movimentos temporários de populações que percorriam várias regiões atraídas por trabalhos próprios de cada estação do ano e de cada região.
b) êxodo rural: normalmente migrações definitivas do campo para a cidade, provocadas pela introdução de práticas capitalistas nos campos e pelo desejo individual de promoção social. Envolveu sobretudo as camadas jovens, provocando enormes implicações como a diminuição da população rural, o envelhecimento da população camponesa, o atraso e estagnação do mundo rural e o rejuvenescimento e carácter mais progressivo das cidades.

Emigrações:
a) dentro do espaço europeu, a tendência verificou-se sobretudo entre os países menos desenvolvidos e os mais industrializados, embora a fuga de situações de conflito, assim como factores de ordem política e religiosa pudessem acontecer.
b) fora do espaço europeu, os EUA, país abundante em terras e oportunidades e carenciado de homens, foram o principal destino dos fluxos emigratórios europeus. No final do século, também a América Latina, em especial o Brasil, que também se debatia com falta de mão-de-obra devido à expansão da cultura do café e à abolição da escravatura, recebe massas importantes de emigrantes portugueses, espanhóis e italianos.
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Margarida às 22:05

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Síntese - As Transformações Económicas na Europa e no Mundo

- A partir de 1850-70, a industrialização entra numa fase de maturidade. É a chamada “segunda revolução industrial”, caracterizada pela utilização de novas fontes de energia (electricidade, petróleo) e de novas tecnologias (exp.: motor de explosão), pelo progresso da siderurgia e da indústria química e pela estreita ligação entre o laboratório e a fábrica, ou seja, entre a ciência e a técnica, cujos progressos cumulativos explicam o surto de grandes invenções na segunda metade do século XIX e princípios do século XX.

- O alargamento dos mercados e a intensificação da concorrência (fruto da implementação do livre-cambismo) levaram as empresas a criar novas estratégias de organização empresarial. No último terço do século XIX, a conjuntura de baixa de preços favoreceu as tendências monopolistas expressas na concentração industrial (horizontal – controlo de uma determinada fase do processo produtivo; e vertical – integração de diferentes empresas ligadas às diversas fases de produção) e bancária.

- Os objectivos da produção em massa e da redução dos custos levaram à racionalização do trabalho, conseguida através da “organização científica do trabalho”, que implicava a divisão e especialização do trabalho, a mecanização e a criação de linhas de montagem (taylorismo e fordismo). Os resultados foram a produção estandardizada e em larga escala, o aumento da produtividade e do lucro, e os efeitos negativos da desumanização do trabalho e da desvalorização da mão-de-obra.

- A ocorrência de crises cíclicas constitui um traço constante da evolução do capitalismo industrial. As crises de superprodução (o consumo é insuficiente para tanta oferta) decorrem de um factor estruturante do próprio sistema capitalista: a procura incessante do aumento da produtividade e do lucro; a procura de um sistema em que o capital gera mais capital.

- Durante o século XIX e até ao início da I Guerra Mundial (1914), verifica-se um crescimento notável das trocas internacionais, tendo a Europa (e, principalmente, a Grã-Bretanha, embora com a concorrência de novas potências industriais e coloniais como a Alemanha, a França, a Holanda e a Bélgica; e, fora do continente, os EUA e o Japão) como pólo dominador. O padrão do comércio internacional assenta então na troca de matérias-primas e produtos alimentares dos países periféricos, não industrializados, por produtos manufacturados, enquanto os próprios países industrializados trocam entre si bens materiais.

- Esta interdependência incrementou o multilateralismo das trocas, promovendo a divisão internacional do trabalho, que, a par do reforço do colonialismo, acentuou a situação de dependência dos países/regiões periféricos face às potências centrais industrializadas.
Na própria Europa, as diferenças de ritmo de desenvolvimento económico eram notórias, fruto do atraso agrícola e da permanência de formas de economia tradicional (como as unidades de produção de tipo familiar e o sistema de produção artesanal, ou a existência de vendedores ambulantes e de pequenas feiras locais e regionais) de certas regiões (principalmente na Europa Continental e Meridional).
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Margarida às 21:55

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Sábado, 10 de Abril de 2010

A ligação Ciência-Técnica

 I - A partir de 1870 a indústria adopta novas manifestações na sua estrutura e nas suas formas ao ponto de alguns historiadores da economia, para qualificar a nova época que então se inicia, falarem de uma segunda revolução industrial. É a época da utilização de novas fontes de energia (electricidade, petróleo), de grandes inventos científicos (motor de explosão, telefone, corantes sintéticos, etc.) e da concentração industrial. Em contraste com a primeira, esta segunda revolução industrial é o resultado da estreita ligação da ciência e da técnica, do laboratório e da fábrica. (…)

Neste processo, a técnica teve uma participação eficaz e o laboratório converteu-se em peça indispensável do complexo industrial, que tinha que combinar o duplo aspecto – técnico e económico – da produção. O mercado competitivo, aspecto essencial do dinamismo criador capitalista, foi o propulsor da renovação técnica.
Ao vapor, motor energético da primeira revolução industrial, vêm juntar-se o petróleo e a electricidade que acabaram por lhe tirar o seu papel dominante. A electricidade já era conhecida pelas experiências de laboratório (Volta, 1780, Faraday, 1831), mas a sua utilização industrial dependia da produção a baixo custo e sobretudo da transmissão à distância (…).

Foi o francês Marcel Deprez, em 1881, quem resolveu o problema do transporte da energia utilizando um fio condutor, entre duas cidades situadas a 57 km de distância, com um rendimento de 45%. (…). O americano Edison conseguiu em 1879 fabricar a lâmpada incandescente (…). Nos transportes, a primeira locomotiva eléctrica foi construída em Berlim, em 1879, por Ernst Siemens.

A aplicação industrial do petróleo inicia-se, ao substitui, desde 1853, o azeite das lâmpadas. Em 1859 realizaram-se perfurações profundas em Oil Creek (Titusville) e Rockfeller instala em Cleveland a primeira refinaria. Começa assim a febre do ouro negro (…).
 

  

PRADA, V. V. de, História Económica Mundial, Lisboa, Civilização, vol. II, 1986, pp. 207-209 (adaptado)

  

  

  

 

 

 II – Técnica e ciência tornam-se elementos naturais do crescimento dos países capitalistas. E os homens também evoluem: ao artífice engenhoso sucedem o investigador, o técnico e o engenheiro. (…) As grandes escolas e os institutos especializados proporcionam promoções aos jovens ao serviço da técnica industrial (…). O desenvolvimento científico e técnico será em breve perfeitamente controlado pelos empresários e utilizado por eles em função das possibilidades e das esperanças do lucro.

 

(…) A técnica e a ciência, servas do capitalismo, contribuem para a baixa dos preços de custo e a manutenção do lucro. Só depois as ideologias do progresso científico e do positivismo poderão dar às boas consciências burguesas os álibis mais variados e confundir lucro e civilização.

RIOUX, Jean-Pierre, A Revolução Industrial, Lisboa, Dom Quixote, 1978

 

 

 


Margarida às 18:43

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